«Harvey e o enigma da crise econômica recente»: Alex Wilhans Antonio Palludeto, Rogerio P. de Andrade
Resenha do livro: HARVEY, D. The enigma of capital and the crises of capitalism. 2. ed. London: Profile Books, 2011. Edição brasileira: O Enigma do Capital. São Paulo: Boitempo, 2011.
Embora não exista na obra de Marx, de forma bem articulada e sistematizada, uma teoria geral da crise capitalista, este tema é objeto recorrente de análise na economia política marxista. Não é surpresa, portanto, que a última grande crise do capitalismo, conhecida como “Grande Recessão”, ainda seja objeto de análise por uma ampla gama de teóricos marxistas contemporâneos, como, por exemplo, Andrew Kliman, John Foster e Fred Magdoff, Gerard Duménil e Dominique Lévy, e David Harvey, para citar alguns.
Um aspecto central das teorias das crises capitalistas de inspiração marxista é que as crises são o resultado da operação das contradições inerentes ao modo de produção capitalista. Elas não decorrem de eventos que acontecem fora do sistema econômico, mas emergem em virtude do seu próprio desenvolvimento. A questão que se coloca é: quais são essas contradições? A identificação daquela que se crê central na explicação da crise é o que separa as várias abordagens marxistas sobre o tema. Neste sentido, na literatura econômica marxista existem três vertentes mais gerais que procuram explicar a natureza das crises: a teoria do subconsumo (por exemplo, Rosa de Luxemburgo, Paul Sweezy); a das desproporções interdepartamentais (Rudolf Hilferding); e a baseada na lei da tendência à queda da taxa de lucros (Paul Mattick, David Yaffe).
David Harvey, um dos mais conhecidos expoentes do marxismo contemporâneo, é também um dos principais intérpretes da crise recente. Sua visão acerca das causas desta encontra-se no livro The Enigma of Capital, lançado originalmente em 2010.
Conforme o próprio título da obra sugere, o autor procura desvendar a lógica de operação do capital e, assim, compreender as crises que dela fatalmente derivam. Não se trata, portanto, de um livro que se dedica exclusivamente à crise atual. Na verdade, Harvey (2011) propõe uma interpretação peculiar do modo de funcionamento do sistema capitalista, a partir da qual, aí sim, busca tornar inteligível a crise recente.
O argumento do autor centra-se na concepção do capital como um fluxo, um processo contínuo no qual o detentor da riqueza, o capitalista, lança mão de seu dinheiro para ganhar mais dinheiro: “Capital is not a thing but a process in which money is perpetually sent in search of more money” (Harvey, 2011, p. 40). Embora esse movimento possa assumir várias formas distintas, Harvey sustenta que o modo de circulação do capital industrial, dominante desde meados do século XVIII, é aquele essencial para a compreensão da dinâmica capitalista.
Reseña completa en pdf: Harvey e o enigma da crise econômica recente
Rev. Econ. Contemp., Rio de Janeiro, v. 17, n. 3, p. 570-570, set-dez/2013