«Mercadoria e valor: algumas reflexões em torno do primeiro capítulo de O Capital de Karl Marx»: João Vasco Fagundes
Após o esmagamento da Comuna de Paris, o editor e banqueiro francês Maurice La Châtre exila-se em San Sebastián. Próximo, desde os anos 40 do século XIX, dos círculos afectos a Saint-Simon, a Louis Blanc e a Pierre-Joseph Proudhon, é na cidade cantábrica que ele se encontra no ano de 1872, ao abrigo da repressão e dos inúmeros processos judiciais que lhe são movidos enquanto editor de Eugène Sue e de enciclopédias de cunho anti-clerical da sua própria autoria. Nessas circunstâncias, projecta então publicar a tradução francesa do Livro Primeiro de Das Kapital. Kritik der politischen Ökonomie, de Karl Marx, em fascículos periódicos.
No dia 18 de Março de 1872, Marx escreve de Londres ao «cidadão» (citoyen) La Châtre a aplaudir a ideia. A solução proposta pelo editor tem o mérito, segundo Marx, de tornar a obra mais acessível a um público operário, e essa consideração «sobreleva qualquer outra».
A medalha tinha, porém, um reverso. «O método de análise que empreguei, e que ainda não havia sido aplicado aos assuntos económicos – adverte Karl Marx –, torna bastante árdua a leitura dos primeiros capítulos». Uma vez que o público francês é conhecido pela pressa de concluir, de apreender a ligação «dos princípios gerais com as questões imediatas que o apaixonam», é de recear que o seu ânimo de leitura esmoreça por não «poder logo passar adiante».
No entanto… «É essa uma desvantagem – acrescenta Marx – contra a qual nada posso senão prevenir e premunir os leitores preocupados com a verdade. Não há estrada real para a ciência e só têm possibilidade de chegar aos seus cumes luminosos aqueles que não temem fatigar-se a escalar as suas veredas escarpadas.»
Artículo completo en pdf: «Mercadoria e valor: algumas reflexões em torno do primeiro capítulo de O Capital de Karl Marx» João Vasco Fagundes